sábado, 14 de agosto de 2010

O Espetáculo das Raças: Racismo e Sciência nos séculos XVIII e XIX.

Emerson Rocha¹
(Orientação: Prof. Dr. Marco Aurélio)²


RIBEIRO, Júlio. A Carne. São Paulo: Martin Claret, 1999.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Populações meridionais do Brasil - volume I: Populações rurais do Centro-Sul. 6ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1973.


Lilia Moritz schwarcz  no livro “O espetáculo das raças” procura demonstrar como se deu, após a abolição de escravatura no Brasil, a construção das teorias raciais européias no contexto histórico brasileiro. E como uma sociedade com grande população negra passa a enxergar e tentar incorporar a sua realidade nacional essas idéias européias. Nesse ambiente surgem disputas entre “profissionais de sciencia” e “homens de letras”, os quais possuíam explicações teóricas distintas em relação ao surgimento das raças. Os primeiros criticavam os segundos por não participarem na busca de solução para os problemas imediatos do país. O que se pode notar é que esses homens de sciencia embora briguem por um maior engajamento nas questões nacionais, estavam interessados em se manter em seus cargos e a partir deles ditar as regras para a sociedade.

A autora no capitulo “Uma história de ‘diferenças e desigualdades. ’ As doutrinas raciais do século XIX.” mostra a trajetória das teorias raciais, e como elas se envolveram em diversos pensamentos desde o século XVIII até o final do século XIX. Essas idéias raciais mantêm um diálogo constante com a idéia de ‘civilização’. Estas mostram um conflito entre as idéias do liberalismo – e conseqüentemente o individualismo – e o pensamento social evolucionista e darwinista, que analisa o coletivo como um todo, e não os indivíduos. Por isso a ‘perfectabilidade’ de Rousseau passa a ganhar um sentido social, e que logo foi associado também ao conceito de ‘raça’.
Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil a primeira coisa que eles precisavam fazer era mudar a visão que a Europa possuía do nosso país. Os europeus viam o Brasil como uma nação onde se predominava a antropofagia e estava cercada por uma gigantesca mata. Então a corte portuguesa para mudar o conceito que o Brasil possuía no exterior resolveu vender a imagem de que aqui em nosso país se produzia ciência. Foi nessa época que surgiram várias obras literárias voltadas ao pensamento científico. Um exemplo disso é “A carne” de Julio Ribeiro. Nesse livro a personagem principal “Lenita” é uma mulher dotada de conhecimentos de botânica, química, idiomas, anatomia e etc. Há no livro páginas inteiras apenas de descrições científicas e naturalistas minuciosas. Todo isso era fruto da imagem cientificista que o Brasil visava passar para o exterior.
      
       Após certo tempo, nesse mesmo período, surgiram as teses do poligenismo e do monogenismo. O monogenismo possibilitava pensar as diferenças em termos evolutivos, enquanto o poligenismo remetia a uma diferença de origem, ou seja, raciais. É neste campo que se desenvolveram os estudos de frenologia e antropometria.
            
      No texto “Populações meridionais”, de Oliveira Vianna, é a bordada a questão racial. Vianna indaga que há uma raça superior, ou seja, a branca (mais parecida com os europeus) e há a raça negra que era considerada inferior. Entretanto a tese dele se aprofunda na definição de uma raça intermediária “a raça mulata”. Oliveira estabelece certa hierarquia entre os mulatos. Quanto mais o mulato fosse parecendo-se com o branco mais dócil, mais bonito e mais inteligente seria o mesmo.             

       Portanto, podemos dividir o pensamente acadêmico da época em duas vertentes: o antropológico, ligado às idéias de poligenismo, imutabilidade, tipos humanos (pensamento voltado à biologia); e a segunda, ligada aos estudos etnológicos, ou seja, monogenista e da evolução cultural (pensamento voltado ao iluminismo).



¹ Graduando em letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – Jequié. É poeta e palestrante em cultos protestantes. É também professor de Espanhol nos colégios Amadeus e Super Passo e professor de Português e Literatura no Colégio Municipal Adolfo Ribeiro.
² Marco Aurélio Souza é professor de Literatura Brasileira II da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) - Jequié. É doutor em Literatura Brasileira pela UFBA.

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